As voltas que a vida dá...

Às vezes dou comigo a relembrar os meus tempos de infância e de adolescência. A escola, os amigos com quem cresci e a quem estarei sempre ligada.
Sinto saudades da altura em que todos nos reuníamos, na rua, na casa de um de nós, dos passeios, dos jogos e das brincadeiras. Também das birras e das zangas próprias da idade e da fase de crescimento.
Foram anos e anos de convivência quase sempre saudável. Aos poucos fomo-nos transformando em adultos e, por força das circunstâncias, fomo-nos também afastando, não só fisicamente.
Há dias em que dou comigo a pensar naquilo em que a vida nos transformou e constato que a maioria de nós, desses amigos de infância, se tornou no contrário daquilo que era em criança.
No meu caso, por exemplo, filha única, sempre muito controlada pelos pais, não podia dar um peido sem autorização. Hoje em dia, faço aquilo que me dá na real gana e sou muito dona do meu nariz. Não admito que alguém me prive da minha liberdade.
No caso dos meus amigos vejo o contrário.
O H., o meu melhor amigo desde que me conheço por gente, nascemos no mesmo ano, andamos sempre juntos na escola, íamos juntos ao dentista (e eu fartava-me de gozar com ele porque me mandava sempre na frente), tirámos a carta de condução juntos, enfim, era o irmão que nunca tive. O H. Sempre fez aquilo que lhe apatecia, sempre teve liberdade, muita mais que eu, não admitia ser controlado por ninguém, especialmente por uma mulher. A gaja que andasse com ele ou baixava a bolinha ou então não se aguentava muito tempo. Actualmente o H. vive com a namorada (minha prima, por sinal) e vai ser pai dentro de aproximadamente um mês. Quando olho para ele não vejo o H. que cresceu comigo, infelizmente vejo alguém que não tem vontade própria e está sujeito aos caprichos da sua lady, dona das calças lá em casa. É triste olharmos para alguém e ver que mudou como do dia para a noite e que se acomodou a uma vida que nunca quis ter.
Outro caso que me faz pensar é o da V., minha prima e amiga. A V., um pouco mais velha que eu, sempre foi rebelde e dona do seu nariz. Mulher de várias conquistas fazia dos homens o que queria e saía sempre por cima. É daquele género que nunca deixava que um namorado a deixasse. Ela deixava-o primeiro. Quando teve a primeira grande paixão lutou contra tudo e contra todos os que eram contra, nomeadamente os pais, e chegou a sair de casa. Infelizmente esse amor acabou devido à distância e deixou dissabores. Neste momento a V. está casada (há 4 anos) e grávida de 8 meses de um marido que tem ainda muito para aprender e que constantemente a desilude. Sempre que estou com ela diz-me que está farta e que um dia destes se separa. No entanto acaba sempre por dar-lhe mais uma oportunidade na esperança de que ele mude.
Nestes dois exemplos práticos, nestas duas pessoas que tinham tanta garra e personalidade, vejo duas pessoas sofridas que estão anos luz da vida que esperavam ter e lembro-me sempre que não devemos cuspir para o ar...pode cair-nos mesmo em cima da nossa testa.
No meu caso, parece-me que a história se desenvolveu ao contrário, também já cuspi para o ar, é certo, mas tento sempre desviar-me a tempo. Que o meus reflexos e sentido de orientação se mantenham assim por muito tempo.