Dia do Pai

Hoje é o Dia do Pai e, apesar de não achar piada nenhuma a estas datas em que temos de festejar alguma coisa ou oferecer alguma coisa só porque a sociedade assim o impõe, não posso deixar de fazer referência aquele que é, sem dúvida, o meu exemplo de vida, o meu Pai.
Sei que nem sempre sou a melhor filha do mundo e muito menos a filha que idealizaste, até porque sempre quiseste ter um filho. E tiveste-o, mas por infelicidade o destino roubou-to tão rapidamente que não conseguiste sequer saborear o prazer de um sonho realizado. A seguir vim eu, uma filha. À medida que fui crescendo fui-me apercebendo que me amavas incondicionalmente. Houve alturas em que desejei ter nascido homem/rapaz porque me sentia culpada por não ser aquilo que tu querias. Confesso que me passou pela cabeça muitas vezes que não gostavas de mim, mas hoje sei que não é assim. Sei que darias a vida por mim, que passarias fome para eu comer, que matarias alguém que me fizesse sofrer. Acredito profundamente nisto e já não o ponho em causa.
E tal como tu, também eu faria o mesmo por ti. Apercebi-me disso quando estiveste numa cama de hospital, entre a vida e a morte, e eu me senti a pessoa mais impotente do mundo por nada poder fazer para te salvar a não ser rezar. E rezei muito. Desde então o meu coração encolheu porque ficou assustado com a hipótese de te perder de uma forma tão brusca.
Sei que não vais ler este texto mas sei que tens noção daquilo que significas para mim. Às vezes chateamo-nos e sei que te magoo quando amuo contigo mas logo passa. Passa porque não consigo ficar de consciência tranquila ao saber que, de alguma forma, te faço sofrer.
Muitas vezes sofres apenas com o facto de achar que me podias dar mais do que aquilo que me dás, se é que é possível. Mas hoje, com 26 anos, sei que tudo o que fizeste na vida e todos os sacrifícios por que passaste foi para que nada me faltasse.
Posso não ser o filho que sempre desejaste mas sempre me esforcei para fazer tudo o que um filho (homem) faz por um pai. Foi contigo que aprendi a gostar de futebol, do nosso Glorioso. Foi contigo que apanhei o bichinho de ir ao Estádio apoiar a nossa equipa. Foi contigo que bebi a primeira cerveja e que fiz as primeiras noitadas. Foi contigo que aprendi a ajudar o próximo, independentemente da raça, do estrato social, da cor ou de essa pessoa merecer a nossa ajuda ou não. Foi contigo que aprendi a dar valor aos amigos e a sacrificar-me por eles. É talvez por isso que, tal como tu, também eu posso orgulhar-me de ter muitos e bons amigos. É por tudo isto que nunca irei retribuir tudo aquilo que me ensinaste, todos os valores que me incutiste e tudo o que me deste. Também herdei o teu mau feitio e a tua frontalidade é certo, mas pelo menos nem eu nem tu podemos ser acusados de hipocrisia porque quando algo não nos agrada somos os primeiros a falar. Obrigado por tudo Pai, por seres como és e, principalmente, por me transformares na pessoa que sou. Tenho orgulho em ti e naquilo que representas para mim.